Um dos mal-entendidos no futebol é a tendência para pensar (concluir?) que os projetos acabam, ou nunca existiram, quando e porque se despedem treinadores. Mas os projetos não são incompatíveis com despedimentos de treinadores. Isto é, não é porque um treinador sai que um projeto se desmorona. Pelo contrário, nos bons exemplos, as pessoas (dirigentes, treinadores e jogadores) saem, mas o projeto continua.
É habitual ouvir-se dos treinadores, talvez para a própria defesa, coisas como “não há projetos se não ganhares”. Mas há. Os bons projetos são os que sobrevivem aos maus períodos e isso, entre tantas outras coisas, pode muito bem fazer-se à custa de mudanças no comando da equipa.
Aliás, acredito que os projetos só devem ser levados a sério quando (ultra)passam esses momentos. É fácil dizer que se tem um projeto quando as coisas correm bem; é difícil fazer acreditar e mostrar que existe um projeto quando as coisas correm mal.
Os projetos são importantes para ajudar os treinadores, mas não servem para torná-los inatingíveis. São um escudo, não uma muralha intransponível. Claro que, quando bem enquadrados, os treinadores são apoiados, contam com todo um contexto que os ajuda, que os suporta, que lhe dá garantias e que lhe tiram algum peso dos resultados, relativizando-os de alguma forma. Nada disto, contudo, significa que não pode haver despedimentos.
Ter um projeto bem definido não é garantia de que não se façam más escolhas e de que não se cometam erros. O que implica, naturalmente, é que estas são mais improváveis porque, quando se sabe o que se quer e a direção que se quer tomar, pensa-se com mais clareza e tomam-se melhores decisões.
Existem duas alternativas: ou os clubes escolhem um treinador para um projeto, ou escolhem o treinador antes de definirem o projeto, fazendo, automaticamente, do treinador o projeto. E é só neste segundo caso que “não há projetos se não ganhares”.
Os projetos/processos não podem, nem devem, ser pensados em torno do treinador, como se essa figura fosse o princípio e o fim, embora ele seja uma peça fundamental para o plano ser bem-sucedido.
Os projetos são dos clubes e para os clubes, não são dos treinadores e para os treinadores. Estes são uma parte, não são o todo. E as partes não são insubstituíveis.