“Crescer como equipa” ou “evoluir coletivamente” são expressões que se ouvem regularmente da boca de treinadores e de líderes, mas elas escondem o essencial. Porque as equipas, por si só, não melhoram nem evoluem. Uma equipa não fala. Uma equipa não responde, não pensa, não tem vontade própria, nem ambições. Não tem medos, fragilidades e defeitos. Nunca acorda maldisposta nem tem problemas familiares para resolver. Não tem preocupações nem constrangimentos físicos e mentais. Quem tem e faz isso tudo, entre muitas outras coisas, são os membros que a compõem, logo é a evolução destes que provoca a evolução coletiva. Uma equipa, qualquer que seja, em que área for, melhora ou piora na mesma proporção em que os respetivos membros (futebolistas no caso do futebol) perdem ou ganham qualidades – sim, também é possível perder qualidades. Cada equipa/organização é a união das qualidades dos membros que a compõem, logo potenciar cada individualidade é essencial. É a fazer evoluir cada um que se desenvolve o coletivo.
Os treinadores não treinam nem lideram equipas, mas sim pessoas e jogadores. Por isso, quando se fala em “crescimento coletivo”, o que se está a dizer é que é preciso melhorar individualmente. É preciso tornar os jogadores melhores, mais capazes em mais momentos do jogo, melhor preparados para mais contextos e mais situações. É preciso que eles façam coisas diferentes das que já fazem, que melhorem aspetos em que ainda são limitados, sem, claro, perderem as principais qualidades. Nenhum jogador/trabalhador é um produto acabado, seja aos 20, aos 30 ou aos 40 anos. Podem ser sempre melhorados, expostos a situações que os obriguem a evoluir e a fazer coisas a que não estavam habituados, mas que, com tempo e paciência, serão capazes de fazer. Não faltam exemplos de equipas que são hoje o que eram há dois anos, com as mesmas qualidades e os mesmos defeitos. Isso quer dizer que esse potencial individual foi descurado e estagnou. E o coletivo é que pagou.
Porque é que há jogadores que rendem mais com um treinador do que com outro, apesar de estarem inseridos na mesma equipa? Porque é que há equipas que têm mais sucesso com um treinador do que com outro? Porque os melhores treinadores não são os que tiram o melhor da equipa, mas os que tiram o máximo de cada jogador e a partir daí fazem crescer as respetivas equipas. Olham para o que têm à disposição, analisam as características individuais e trabalham em cima disso, em vez de trabalharem com isso (esta diferença na abordagem é substancial e decisiva). Dão estímulos e promovem contextos que não só potenciam as melhores qualidades de cada um, mas que também os tornem mais completos e mais preparados para responder aos desafios impostos interna e externamente, direta e indiretamente. Às vezes, mudá-los de lugar, dar-lhes outras funções, incutir-lhes mais confiança, dar-lhes mais liberdade é o que basta para a diferença ser significativa.
Numa altura em que o individualismo está pelas ruas da amargura, tenho a convicção de que essa “liberdade do indivíduo frente a um grupo, à sociedade ou ao Estado”, quando bem usada e incentivada, é fundamental para haver evolução em qualquer atividade. Quanto mais completo for alguém, mais qualidade e competência pode acrescentar à equipa ou à empresa para a qual trabalha. Por isso, cada um, independentemente da área em que trabalha, deve procurar melhorar sempre, acrescentar mais-valias às que já tem, interessar-se por mais temas, aprender outras valências, tornar-se mais completo, interessante e competente. E também é responsabilidade/obrigação de quem lidera promover esse “mindset” e dar ferramentas que tornem essa evolução pessoal possível. O coletivo só tem a ganhar. É este o caminho para o sucesso prolongado.
O erro de (só) aproveitar o que já tem
Neste sentido, até que ponto faz sentido entregar uma equipa a um treinador/líder que se limita a trabalhar com o que tem e a adaptar-se aos jogadores que tem e àquilo que eles já têm para oferecer? Essa equipa será melhor daqui a um ano? Dificilmente. Não há crescimento onde a ideia principal é somente aproveitar o que os jogadores são. Pode haver bons resultados a curto prazo, mas o projeto afigura-se insustentável para além disso porque melhorar os membros da equipa não é prioritário. Se o líder não servir para evoluir as individualidades, que tipo de influência vai deixar em cada uma e que tipo de valor vai acrescentar à organização que lidera? Numa lógica de crescimento, que é o objetivo que deve influenciar a maioria das decisões, é contraproducente entregar uma equipa a alguém que não tenha esta visão.
Na formação, ter isto presente é ainda mais fundamental. O objetivo principal (único?) é formar jogadores e não equipas, logo é a evolução individual que tem que ser priorizada, promovida, trabalhada e impulsionada em todos os momentos. Se os jogadores se tornarem melhores, mais fortes vão ser as equipas. Estar atento a cada um, perspetivar o futuro, analisar e avaliar intenções em vez de resultados de ações, perceber em que posições e em que contextos é que determinado jogador vai ser melhor aproveitado, ter a noção de que características devem ser melhoradas para o tornar mais completo, são alguns dos pontos a ter em conta. Na Holanda, já há quem leve isso ao extremo. Porque melhores jogadores fazem melhores equipas.
IDEIAS-CHAVE
- Uma equipa, qualquer que seja, em que área for, melhora ou piora na mesma proporção em que os respetivos membros perdem ou ganham qualidades
- Quando se fala em “crescimento coletivo”, o que se está a dizer é que é preciso melhorar individualmente
- Os melhores treinadores são os que tiram o máximo de cada jogador e a partir daí fazem crescer as respetivas equipas
- Um líder que não melhore os membros da equipa, dificilmente deixa alguma influência em cada membro nem acrescenta valor à organização que lidera
- É obrigação de quem lidera promover esse “mindset” e dar ferramentas que tornem a evolução pessoal possível
- O individualismo, se bem usado e aproveitado, é fundamental para haver evolução em qualquer atividade