Entrevista #17: Francisca Moreira Rato | Comunicar para melhorar o clube, lidar com o sucesso e o insucesso e ajudar a equipa

29 de Setembro, 2022 - 3 mins de leitura

Francisca Moreira Rato esteve cinco anos na Dinamarca, onde se licenciou em Gestão de Marketing e tirou uma pós-graduação em Gestão do Desporto. Através de um estágio, entrou no futebol pela porta do FC Helsingor, clube no qual esteve dois anos a exercer diversas funções relacionadas com a Comunicação.

Nesta conversa, e entre outras coisas, detalha como foi trabalhar num clube dinamarquês mas detido por proprietários americanos e como a diversidade e as diferenças culturais foram importantes a vários níveis. Para além disso, explica como a comunicação é mais do que aquilo que se diz — também é o que se faz e o que se transmite não-verbalmente; expõe dificuldades e como elas foram ultrapassadas, destaca a importância da comunicação para lá das redes sociais e de os clubes mais pequenos se aproximarem da comunidade local, fala sobre a relação clube/comunicação social e sublinha os cuidados a ter nas alturas de euforia e de desânimo.

As particularidades que fazem do jogador dinamarquês apetecível, a qualidade de vida na Dinamarca e do ensino do país, e a evolução do futebol dinamarquês também são temas abordados.

“Tenho a certeza que o Helsingor me contratou devido à minha paixão e ao meu entusiasmo pelo futebol. O facto de ser mulher também teve algum peso, por ser uma pessoa diferente na estrutura, composta por cinco pessoas e todos homens”.

A entrevista completa está disponível no YouTube e também pode ser ouvida através do podcast ‘Efeito BorboletRa’.

Abaixo, seguem algumas passagens da conversa.


“Os dinamarqueses são muito focados no trabalho e às vezes esquecem-se de olhar à volta e perceber que há outras coisas, que há uma área cinzenta e que não é tudo preto ou branco. Tive, e tenho, uma relação muito próxima com o treinador precisamente por causa disso. Mesmo em situações com os jogadores eu tentava mostrar outros pontos de vista. Acho que ser mulher também me ajudou nisso. Em alguns treinadores ainda falta muito esta parte mais humana”.

“O clube não era muito forte na comunicação, não tinha muitos recursos. Tudo o que fiz foi da minha cabeça. A minha estratégia inicial passou por melhorar as redes sociais e a forma como comunicar para fora. Também tentámos distanciar um bocadinho os jornalistas, no sentido em que num clube tão pequeno a aproximação é grande e pode ser prejudicial porque os jornalistas acabam por saber mais do que aquilo que devem”.

“Quando se ganha, fazemos o que nós quisermos porque os jogadores estão sempre contentes, divertidos e alinham em tudo. Quando os resultados são maus, quando os jogadores não estão felizes, as coisas complicam-se muito. Nesses períodos, acho que a minha personalidade e a minha maneira de ser ajudaram. Como andava sempre contente, acabava por passar isso para os jogadores e acho que isso é muito importante: passar a mensagem de que, apesar dos maus resultados, não há pânico”.

Os clubes pequenos devem preocupar-se em segurar e cativar o apoio local e as pessoas da cidade. Nós visitámos escolas, fomos dar autógrafos aos miúdos, distribuímos bilhetes, material do clube… Assim, crias a nova geração de fãs e cativas mais adeptos”.

“Nos maus períodos é importante saber recatarmo-nos porque nada do que possamos dizer vai deixar as pessoas contentes e felizes (…) Houve uma altura da época em que tudo parecia encaminhado para subirmos à Superliga e cometemos o erro — e, na altura, eu avisei — de falar muito nisso, da possibilidade de promoção. Depois, quando vieram os maus resultados, foi muito complicado gerir a situação. Eu tinha a vantagem de conseguir pôr-me na pele dos adeptos. Isto é, o que é que eu como fã gostaria de ouvir?”

“Claro que não podemos controlar a imprensa externa e isso complica muito as coisas nas alturas de depressão e de euforia. Por muito que não se queira, é muito difícil não ir nessa onda. Mas (internamente) é muito importante tentar não ser depressivo quando as coisas correm mal e não ser muito eufórico quando as coisas correm bem, de maneira com que todos mantenham os pés assentes na terra”.

Vasco Samouco