Cheguei a esta convicção ao ver a série ‘Sobrevivente Designado’*: uma das principais razões por que é tão difícil tomar decisões prende-se com o facto de que, na teoria, antes da ação ser concretizar e de haver qualquer consequência, nunca há uma opção claramente melhor para os mesmos contextos, problemas ou situações. Ou seja, independentemente da decisão tomada, mesmo que se venha a revelar acertada, ela tem sempre vantagens e desvantagens associadas e muitas vezes implica perder qualquer coisa em determinado momento.
Claro que há casos em que a solução é demasiado clara e aí as desvantagens são quase inexistentes, contudo essas são as exceções. Normalmente, o mesmo problema (pensemos numa jogada de um jogo de futebol para facilitar) tem várias possíveis soluções, daí ser tão difícil decidir e a tomada de decisão ser tão preponderante. Por isso é que no caso concreto de um jogo de futebol só uns poucos decidem bem consistentemente. E mesmo quando o fazem, não é certo que não houvesse outras possibilidades tão boas ou melhores.
No entanto, e no que diz respeito ao futebol, nomeadamente a tudo o que envolve as equipas e os clubes nas diferentes áreas de intervenção, a complexidade da tomada de decisões e de escolher vai para lá do jogo e do campo. Está na Gestão, na Organização, nas Ideias, na Política Desportiva. Ou seja, até a definir caminhos, estratégias de gestão ou formas de trabalhar e de pensar, há sempre perdas vinculadas, mesmo que os ganhos sejam maiores. Quando decidimos fazer alguma coisa, tomar um rumo específico, vamos perder coisas que apenas aconteceriam se fizéssemos escolhas diferentes.
Quando dizemos, acertadamente, que não há uma forma de jogar 100% ganhadora, o que também estamos a dizer é que é possível ganhar a jogar de diversas maneiras e a grande conclusão a tirar é todas elas, as formas de jogar, têm virtudes, mas também têm defeitos. E se têm defeitos vão também estar na origem de derrotas. O mesmo é válido para as outras áreas: não há uma política desportiva infalível, nem formas de liderar e de treinar perfeitas; como não há um modelo de gestão e de organização que garanta, sem margem para dúvidas, bons resultados. É básico: a existirem seria fácil decidir e todos fariam o mesmo. Ao optar-se por jogar ao ataque, é normal fragilizar a defesa; ao decidir por uma política desportiva baseada em futebolistas sub-25, vai acontecer perder-se bons jogadores e boas oportunidades de negócio com jogadores acima dessa idade; ao defender à zona evitam-se muitos golos, mas sofrem-se outros que seriam evitáveis numa defesa ao homem. E por aí fora.
Portanto, uma escolha tem sempre riscos e, normalmente, envolve perdas. As desvantagens ligadas a uma escolha vão aparecer e terão consequências. Se não for hoje, é amanhã ou daqui a uma semana, daqui a um mês ou daqui a um ano. É quase impossível não haver períodos negativos e maus resultados, independentemente do caminho seguido, a dizer-nos que eles não sucederiam se a nossa decisão e a nossa estratégia fossem outras. E isto leva a outro ponto fundamental: quando esses momentos sucederem, isso não quer dizer que se escolheu mal. A avaliação sobre se se tomou a decisão certa não pode ser feita após uma jogada, um jogo, uma época até. Tem que ser feita através de vários momentos e contextos, na sequência de um período longo e tendo em conta vários fatores.
Então como é que devemos decidir? Primeiro, estar consciente de que, quase sempre, a decisão, seja qual for, não é perfeita. Tem vantagens, sim (por isso é que a tomámos), mas também implica desvantagens e deixar de fazer outras coisas, igualmente boas. Depois, é pesar os prós e os contras, tentar minimizar riscos e aumentar as probabilidades de sucesso e decidir em conformidade, sabendo sempre que vão existir momentos em que aquilo que decidimos fazer não resultou. É inevitável. E por isso é fulcral estar plenamente convencido da decisão tomada e do caminho escolhido.
Qualquer decisão tem riscos inerentes, porque não se pode ter o melhor de dois ou três mundos. Escolher, neste sentido, também é perder, mesmo que se ganhe.
PS: Para quem se interessa por Liderança, Gestão, Inteligência Emocional ou Tomada de Decisão, a série ‘Sobrevivente Designado’ é muito interessante e enriquecedora. É sobre política, mas também é sobre Futebol, ser treinador, CEO, Diretor Desportivo, líder e tirar o melhor de quem trabalha connosco. Está disponível na Netflix e vale a pena espreitar, sobretudo pelo personagem Tom Kirkman.