Pensemos em nós. Todos os dias tomamos dezenas de decisões. No entanto, e infelizmente, agimos de maneira cada vez mais automática, pouco consciente e, consequentemente, irrefletida. Decidimos quase como calha, sem sequer termos a noção que estamos a decidir, levados por hábitos, também eles incutidos à pressão e influenciados à partida pelo que nos rodeia. São inúmeras as pequenas decisões que tomamos, quase imperceptíveis e aparentemente insignificantes e, no entanto, elas dizem muito sobre nós. O carácter, a forma de pensar e de estar, a maneira de viver e de comunicar, a imagem que transmitimos. Enfim… Se pensarmos bem, tudo isto (que, no fundo, é o que nós somos) é mais consequência de ações e comportamentos de todos os dias e de todas as horas do que devido às grandes decisões que tomamos ao longo da vida, essas, sim, normalmente pensadas, analisadas e tomadas em consciência, sejam boas ou más.
Tal como as pessoas, também os clubes e as equipas de futebol são e serão o que decidem e o que fazem dia após dia, hora a hora. E o que isto significa, cruamente, é que o que se diz antes de cada temporada ou antes de se começar um novo rumo apenas é importante dependendo do que se faça daí para a frente. Se as ações/palavras – as tais pequenas decisões – não estiverem de acordo com o idealizado e o plano macro, tudo deixa de fazer sentido. As pequenas decisões, se não forem condizentes com o que se prometeu, comem a grande decisão e deitam tudo a perder.
Cada vez mais há a tendência para a simplificação e para dizer que um clube ganha ou perde porque faz (ou não faz) uma coisa. Contudo, é por isso mesmo que também me parece importante alertar para o facto de que um clube não muda nem se transforma quando define um rumo desportivo ou decide um modelo económico; um clube muda, sim, quando diariamente toma decisões que vão de encontro ao tal rumo ou modelo. O ponto de partida, que também é importante, claro (por ser o início de tudo), perde toda a lógica e toda a força quando as pequenas decisões não estão alinhadas com essa visão e essas ideias.
Todos os dias há decisões a tomar e todos os dias é preciso transmitir/relembrar, com essas mesmas decisões, qual é o plano, o que queremos ser e fazer, como queremos trabalhar e viver, como vamos jogar, para onde queremos ir. O perigo é ver e abordar essas pequenas decisões como sendo insignificantes. Não são. Pelo contrário, no caso dos clubes/equipas, são significativas e determinantes para tudo fluir, para haver união de vontades, um pensamento coletivo perfeitamente identificado. As intenções sustentam-se nas palavras, nas ações de todos os dias e no que se transmite diariamente.
Hoje, o Mundo é um lugar apressado, competitivo, exigente e imprevisível. Tudo características incompatíveis com a reflexão, a calma, o pensar, o analisar. O futebol vive um período igual (se calhar, ao um nível até mais extremo) e assim, as pequenas decisões, os tais pormenores, acabam por estar destinados à irrelevância. O paradoxo é que é exatamente devido a essa aparente incompatibilidade que parar, refletir e ser racional é tão importante. Analisar e agir conscientemente e todos os dias.
Muito cuidado com os detalhes, os pormenores e com aquilo que não parece importante.
Até setembro.