Um dos melhores basquetebolistas do Mundo é esloveno. Dois dos melhores ciclistas do Mundo também são eslovenos. Tal como um dos melhores guarda-redes de futebol. A esquiadora Tina Maze é campeã mundial, o canoísta Benjamin Savsek é campeão olímpico e também eles são compatriotas de Luka Doncic, Tadej Pogacar, Primoz Roglic e Jan Oblak. A seleção de basquetebol foi campeã da Europa em 2017, as seleções de andebol e de voleibol já foram vice-campeãs europeias e agora, em 2024, a seleção de futebol apurou-se pela primeira vez para os oitavos de final de um Europeu de futebol. A Eslovénia tem pouco mais de dois milhões de habitantes, só existe como país independente desde 1991 e é um milagre desportivo.
Bem, talvez não seja exatamente um milagre. Afinal, o desporto é levado tão a sério por lá que até existe um feriado nacional para lhe prestar homenagem, celebrado a 23 de setembro. Por outro lado, dados oficiais dão conta de que cerca de 70% da população pratica exercício físico com regularidade. Em Ljubljana, que se gaba de ser a capital mundial com mais medalhas olímpicas por habitante, os carros são preteridos em detrimento das bicicletas, das caminhadas a pé e das corridas.
“Investimos muito no desporto jovem e temos uma boa rede de infraestruturas desportivas públicas. O desporto é um bem de interesse comum, tem uma grande importância no sistema educativo e o Estado garante as condições para o seu desenvolvimento. Trabalhamos com toda a população, independentemente da situação social e económica”, explicaram fontes do Ministério do Desporto do país ao “El Mundo”.
O investimento resulta na formação de desportistas de elite que durante o processo têm a particularidade, que também diz-se ser uma vantagem, de experimentarem várias e diferentes atividades desportivas e que depois, no auge das carreiras, servem de exemplo aos mais novos, como acontece com Luka Doncic e Tadej Pogacar, responsáveis pelo basquetebol e o ciclismo, respetivamente, terem cada vez mais praticantes na Eslovénia.
Neste ponto, e de maneira a dar mais contexto à dimensão do feito esloveno no Euro2024, é importante realçar que o futebol nem sequer está entre os desportos mais populares no país e até o esqui ou a escalada estão num patamar mais elevado de importância. O facto de desde 2002 a Eslovénia só ter marcado presença na fase final de uma grande competição (Mundial 2010) também não ajuda à desejada emancipação futebolística.
Catorze anos depois dessa aparição na África do Sul, a Eslovénia volta aos grandes palcos e pela primeira vez disputa a fase a eliminar, alimentando o sonho de chegar ainda mais longe, algo que só Portugal pode evitar. Se era de inspiração que os eslovenos precisavam para começarem a dar mais importância ao futebol, ela está aí. A seleção comandada por Matjaz Kek e Benjamin Sesko, o prodígio do RB Leipzig e já cobiçado pelos maiores clubes europeus, talvez sejam o trampolim ideal.
(texto publicado originalmente no Jornal de Notícias)