“Dou mais importância ao passado do que ao futuro. Com o passado, pelo menos, aprende-se alguma coisa”.
Um processo de recrutamento, qualquer que seja e para o que for, é virado para o futuro. O que queremos é tentar perceber o que determinada pessoa tem de bom para dar ao clube, à equipa. Como nos pode ajudar, no fundo. Escolher e contratar alguém tem sempre em vista aquilo que ele ou ela pode acrescentar, fazer e representar. É normal, porque só o futuro é que se prepara e se constrói, e é no futuro que pretendemos tirar mais-valias dessa escolha.
Mas o futuro não cai do céu, não acontece por acaso, sem razão aparente. O futuro, normalmente, é lógico, quase sempre tem uma história associada. E nesse sentido pode, e deve, ser previsto. Isso, no entanto, só é possível quando se analisa o passado, quando se dá a importância devida (e que é muita) ao que já não pode ser mudado, mas que aconteceu, tem histórias, contextos, custos, reações ou consequências. O que se passou até aqui é que vai dizer o que se pode esperar.
O que alguém pode vir a ser é importante, mas aquilo que ele foi, fez ou conseguiu não é menos. Quando se contrata alguém, pensa-se no futuro, só que é no passado que nos devemos concentrar para tentar antecipar aquilo que pode acontecer. O que alguém fez anteriormente, o que alguém é, como chegou até aqui, é o que nos vai dizer aquilo que precisamos de saber sobre se esse alguém é a pessoa que queremos para o futuro que queremos.
O passado de alguém é feito de contextos, de dificuldades ou facilidades, de crescimento ou de estagnação, de boas ou más reações, de influências positivas ou negativas, de comportamentos adequados ou não, de mudanças, para melhor ou para pior. O que alguém fez antes, o que passou para chegar onde chegou, como chegou, se melhorou com o tempo ou piorou, entre outras coisas, transmite mais ou menos confiança sobre se é, realmente, a escolha certeira.
Também no futebol tudo isto faz sentido. Olhar para o passado de um jogador é fundamental para minimizar riscos na escolha. Ele está mais perto de nos ajudar e de ser alguém que acrescente valor à equipa e ao clube se atrás dele tiver um passado que mostre isso mesmo. O mesmo é válido para treinadores e dirigentes. O que fizeram eles, ou não fizeram, que nos dê confiança de que serão a escolha certa?
Onde o fizeram, como o fizeram e quando o fizeram também são questões a explorar, obrigatoriamente. Alguém que fez coisas boas, mas em contextos facilitados pode não ter a capacidade de resposta exigida e necessária se o contexto para o qual é pretendido for de dificuldades, por exemplo. Por outro lado, alguém que foi uma mais-valia em situações de dificuldade tem mais argumentos a favor. Um futebolista que vem num processo de crescimento não dá mais garantias do que outro que tem ficado para trás e caído na carreira, apesar de lhe serem reconhecidas qualidades?
Mas o passado serve para muito mais. Ele também nos diz o que podemos melhorar em quem é contratado, como podemos torná-lo mais capaz, enquadrá-lo melhor, ajudá-lo mais e assim ter mais condições para ajudar a nossa equipa. Porque o passado de alguém também tem falhas que podem ser corrigidas, tem qualidades que podem não ter sido bem aproveitadas, tem episódios que o podem ter prejudicado ou vivências que atrapalharam o respetivo desenvolvimento. Jogadores ou treinadores podem, simplesmente, ter feito más escolhas na carreira. Também por essa razão, é tão fundamental explorar, enquadrar, analisar e tentar perspetivar como esse passado pode ser aproveitado e moldado. O passado é o que é, contudo nem sempre é o que podia ter sido.
O passado não é, simplesmente, o passado. É feito de lições, de experiências, de erros e de acertos. Não pode ser mudado, mas pode servir para mudar. O passado não dita o futuro, simplesmente, é, isso sim, uma ferramenta e uma amostra muito poderosa que ajuda a prever e, mais do que isso até, a preparar o futuro. Ignorar o passado é pôr-se a jeito para um futuro pior.
Quando se contrata alguém é sempre na expectativa do que ele fará por nós e o que ele representará, e, nesse sentido, o passado é decisivo para clarificar essa visão e perceber aquilo que podemos esperar e o que devemos preparar. O passado é um facto determinante e que deve ser analisado profundamente.