Saber que, mais cedo ou mais tarde, se vai perder é uma das melhores qualidades que aqueles que querem ter sucesso prolongado e consistente podem ter. Essa noção de que a derrota chegará é fundamental para ter sangue-frio nessas alturas, para se ser emocionalmente mais estável e para não tomar decisões precipitadas. Como Xesco Espar se farta de dizer: “perder e ganhar não são termos antagónicos. Perder está no caminho de ganhar”.
Não há clubes, ideias e projetos infalíveis, que atinjam sempre os objetivos a que se propõem. Alguma vez perderão e quanto mais vezes ganham, mais perto estão de perder. É uma mera questão estatística, à qual me parece impossível fugir. Afinal, “não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe”. Ganhar sempre é impossível, mesmo quando se faz tudo bem; da mesma maneira que perder sempre não existe, mesmo quando se faz tudo mal.
Nesta temporada, dois clubes com projetos sólidos, sustentáveis e exemplarmente geridos, desportiva e financeiramente, perderam. Em Espanha, o Eibar desceu de divisão, depois de meia dúzia de anos de resultados excecionais; na Dinamarca, o Midtjylland perdeu o estatuto de campeão. Isso, no entanto, não significa que tenham feito as coisas mal. Nem sequer diz, necessariamente, que outros clubes trabalharam mais e melhor. É apenas a competição a funcionar, principalmente numa (o futebol) em que tantos aspetos interferem nos resultados.
Os melhores clubes e os melhores projetos não são aqueles que não perdem – todos perdem. Os melhores são os que sabem que vão perder e que vão passar por momentos difíceis e é exatamente por isso que estão preparados para isso, logo mais perto de tomar as melhores decisões e de suportar esses momentos sem perder a cabeça e sem se desviarem do caminho definido. Até os clubes exemplarmente geridos perdem, a grande vantagem em relação aos outros é que estarão muito melhor preparados para dar a volta por cima, reagir e ganhar outra vez.
Se as derrotas acontecem e se não atingir os objetivos definidos é uma possibilidade, é essencial estar-se preparado para esses momentos, saber, na medida do possível, o que se fazer e como responder nessas alturas e ter a sensibilidade para perceber que perder não quer dizer que se esteja a fazer (tudo) mal.
Muitas vezes esquecemo-nos, mas se se tem adversários, então os resultados (bons ou maus) também dependem daquilo que os outros fazem.