Uma derrota, uma fase de resultados negativos ou objetivos que ficam por concretizar, não são, nem devem ser, o fim do Mundo (embora, na maior parte das vezes e na maioria dos clubes, pareçam). Pelo contrário, esses momentos podem até ser decisivos para que qualquer projeto que tenha uma visão a médio e a longo-prazo seja bem-sucedido, depois de transformados em potenciadores de reflexão, de análise e consequentes (boas) decisões.
Há que ter bem presente que os maus resultados são inevitáveis em algum momento, que vão aparecer, mais tarde ou mais cedo, com mais ou menos consequências. Neste sentido, é fundamental estar-se preparado para eles, ter definido ao máximo o que fazer e que atitudes tomar quando eles surgirem. Se são uma inevitabilidade, então o que impede aqueles que gerem, dirigem e lideram de não serem apanhados desprevenidos quando eles acontecem? É um erro grave não ter essa abertura de assumir que as coisas podem não correr como o esperado e negligenciar esse facto terá consequências devastadoras.
Ser apanhado de surpresa por períodos maus (embora os bons possam ter os mesmos efeitos nefastos) é estar fragilizado nas piores alturas, menos seguro e por isso mesmo mais propenso a agir por impulso, sem pensar ou a pensar demasiado, a procurar soluções milagrosas e imediatas, e a tomar más decisões. É, basicamente, não saber o que fazer e por isso estar mais exposto ao erro. É quando o plano (a existir e seja ele qual for) deixa de ter importância que a racionalidade foge e se deixa tudo nas mãos da sorte.
Daí, os maus momentos serem definidores para se saber até que ponto alguma coisa tem ou não pernas para andar e capacidade para resistir e seguir em frente. Os maus momentos são fulcrais para sustentar, ou não, projetos, organizações e equipas. No pior dos casos, são vistos como uma ameaça constante, que faz repensar tudo, como algo sem retorno e benefício, e com potencial elevado de ser deitar tudo a perder; no melhor, têm tudo para serem um contratempo aproveitado para refletir, limar arestas e fortalecer relações, comportamentos e organizações.
Os maus momentos são, normalmente, clarificadores. Eles servem para fazer a triagem indispensável e decisiva entre quem está, realmente, metido no projeto, aqueles que acreditam e que confiam naquilo que se está a tentar fazer e a construir, e entre os que não estão de corpo e alma, que não têm as mesmas convicções, que duvidam e que não partilham das mesmas ideias, nem carregam a confiança indispensável no trabalho a desenvolver, que desistem e que mudam à primeira dificuldade, ou até que não têm qualidade para acompanhar o processo.
Por isso, os maus momentos são importantes e, normalmente, quem sabe o que quer, para onde quer ir e tem um plano traçado para o conseguir alcançar tem tudo para sair fortalecido deles. Quem aguenta os contratempos, fica ainda com mais vontade contribuir, de ajudar e de fazer com que as coisas corram bem. E como saem os que, afinal, não acreditam assim tanto, então menos ameaças internas existirão. E são essas ameaças as potencialmente mais prejudiciais.
Tanto em organizações diretivas e de clube ou em equipas de futebol, isso acontece. Por exemplo: se um jogador não aceita ser suplente e muda o comportamento conforme joga ou não (de melhor para pior), então esse mau momento, essa pequena crise, já serviu para perceber que a equipa ficará melhor e mais forte quando se vir livre desse membro.
É impossível os períodos negativos servirem para alguma coisa se se olhar para eles como algo trágico e mal contextualizado, mas é provável que ajudem quando existe a noção de que fazem parte do processo e que são inevitáveis, agora, amanhã ou daqui a umas semanas. Sempre, claro, que enquadrados num plano, numa visão e em algo vivo, com dores de crescimento inerentes e compreensíveis.
Quando se sabe o que se quer, as decisões e as atitudes são sempre direcionadas para um plano macro que não muda, embora esteja sempre debaixo de analise e sujeito a altos e baixos, mas que se alimenta disso mesmo e é capaz de cresce em função desses períodos. Logo, praticamente todas as decisões são pensadas e tomadas debaixo desse conceito.
Os maus períodos vão aparecer e há quem os aproveite bem e há quem os aproveite mal. Os que estão preparados para eles porque sabem que o processo é mesmo assim, tiram partido deles e por isso estão mais perto do sucesso.