Uma reflexão rápida e torna-se claro que o futebol – tudo o que o envolve, aos mais diversos níveis – sofreu várias transformações nos últimos anos. O jogo evoluiu taticamente, as pessoas que o jogam tornaram-se mais complexas, os adeptos (e o mercado) são diferentes, a globalização trouxe-lhe vantagens ao mesmo tempo que provocou muitos desafios, a comunicação mudou radicalmente, os clubes tornaram-se maiores na medida em que têm que se preocupar com cada vez mais aspetos. Não resta quase nada que seja igual há 20 anos e na última década a evolução (boa e/ou má) tem sido imparável.
Neste cenário, fica evidente também que o futebol exige mais dos treinadores, dos dirigentes, dos jogadores, dos gestores, dos médicos, dos psicólogos, dos adeptos. Mais conhecimentos, mais riscos, mais diversidade, mais abertura, mais disponibilidade. Há mais problemas para resolver, mais decisões para tomar, mais aspetos a analisar, mais áreas a considerar e, neste sentido, mais respostas a dar. É um futebol quase novo e por isso exige coisas novas. E vai continuar a exigir.
No entanto, apesar de todas as mudanças, evidentes, estarem a ocorrer bem à nossa frente, continua a ser normal (tentar) não mexer muito, evitar as mudanças de fundo, não procurar outras respostas, não mudar de opinião, não ir buscar outros conhecimentos, não ver com bons olhos quem traga ideias diferentes e proponha caminhos alternativos. No fundo, o normal ainda é não acompanhar essa evolução. Os problemas são novos, mas as respostas são tendencialmente velhas. E, assim, quase sempre são erradas.
Se o jogo é mais exigente física e taticamente, então são necessários métodos de treino diferentes, treinadores mais inovadores e novas abordagens que tornem os jogadores capazes de lidar com essa exigência. Se os clubes têm, cada vez mais, conotação empresarial, então precisam de pessoas e estratégias que se ajustem a esse novo papel. Se é possível ver e observar futebolistas que jogam do outro lado do Mundo, mesmo sem viajar para lá, também a concorrência é maior do que nunca e isso vai exigir mais dos clubes que os querem contratar. Se é preciso mais dinheiro, então há que pensar em novas formas de o encontrar.
No livro ‘Antifrágil’ Nassim Nicholas Taleb recorda como a roda foi inventada muito antes de lhe começar a ser dado o melhor uso possível (“Por vezes, é necessário um visionário para perceber o que fazer com uma descoberta”), lembra que entre a descoberta dos micróbios e a aceitação de que os micróbios são causas de doenças passaram 200 anos - chama-se “intervalo de divulgação”. Mesmo a ver as mudanças, é difícil ter noção delas e, acima de tudo, do que elas podem significar. Mudar não é fácil e num meio tão conservador como o futebol ainda mais. Continua-se a acreditar (nesta altura, já muito para lá do aceitável) que as mesmas respostas e as mesmas formas de estar, de pensar e de agir de há anos são suficientes.
O futebol também pode estar na categoria daquilo a que Simon Sinek chama “um jogo infinito” (não se deixem enganar pelo exemplo inicial, as explicações são muito melhores). Afinal, no futebol também há “known and unknown players and the objective is to perpetuate the game and stay in the game as long as possible”. Sim, as regras são mais ou menos claras e estáveis, mas o que se faz (pode fazer) para nos ajustarmos a essas regras e dentro desse contexto levar a melhor sobre os adversários é o que é diferencial e decisivo. E aí, parece-me claro e a história recente confirma-o, as opções nunca se fecham: há sempre espaço para inovar, para evoluir, repensar e mudar para melhor.
Por outro lado, estamos numa altura em que estar no futebol também deve implicar querer criar problemas, isto é pensar mais além, tomar decisões e fazer coisas que permitam estar à frente da concorrência e que obrigue os adversários a reagir e a ir à procura de soluções. Há sempre espaço para novas respostas, mas também para novas perguntas que levem a mais novas respostas.