Não interessa se um clube é rico ou pobre, se é grande ou pequeno, o que interessa é se os clubes são bons ou maus e isso não está relacionado com a grandeza ou com o facto de se ter muito ou pouco dinheiro. É possível ser-se bom sendo pequeno e pobre e é possível ser-se mau sendo grande e rico. Os clubes bons estão mais perto de atingir objetivos, os maus estão mais perto de falhar.
Os bons clubes estão bem organizados, planeiam, pensam para lá do curto-prazo, têm objetivos claros e definidos, ideias inegociáveis e que são alimentadas, investem em pessoas competentes – dentro, mas principalmente fora do campo –, procuram evoluir constantemente, não se acomodam às vitórias. Os maus clubes, pelo contrário, são desorganizados, duvidam e mudam constantemente, não têm um plano, desvalorizam o processo, acomodam-se nas vitórias e não estão preparados para as derrotas. Por muito dinheiro que tenham. Os milhões só fazem a diferença quando bem aplicados e quando têm todo um plano e sustentá-los.
Quando um clube que habitualmente ganha começa a perder mais vezes do que o normal e a deixar fugir objetivos consecutivamente, a tendência é tentar encontrar explicações dentro do campo. É o mais fácil, é o que é visível e tem os resultados a prová-lo. Mas na maioria das vezes é fora do campo que estão as justificações e as causas principais para maus períodos. Muda-se de treinador regularmente e nenhum resulta? Muda-se de jogadores e os resultados não melhoram? Muda-se de ideia, de estratégia e de plano, e nada? Então o problema não está no campo: o que se passa no campo é, normalmente, consequência do que se passa fora do campo; nunca o contrário.
O Barcelona é, talvez, o melhor exemplo disso. Depois do período mais vitorioso da história do clube, tem vindo a perder qualidade no campo de ano para ano. Os resultados pioram, as exibições não dão confiança, o presente e o futuro preocupam. E não é coincidência que isso surja numa altura de crise interna, de instabilidade, de más decisões reiteradas ao mais alto nível, de uma liderança deficiente. O Barcelona perdeu identidade, coerência, critério, referências, organização, coesão, competência diretiva, ligação emocional e social. E para voltar a ser forte, é aí, fora do campo, que precisa de mudar.
Ter competência e qualidade no campo pode chegar para uma vitória de vez em quando, para conquistar um título, mas é improvável que chegue para construir e manter uma sequência consistente de bons resultados que durem vários anos. Isso só acontece se nos bastidores estiverem as pessoas certas e boas ideias e a mentalidade adequada; acontece se forem tomadas boas decisões, se existirem os melhores comportamentos e a conduta for exemplar.
Os clubes de futebol não são só a equipa de futebol. Eles também são a direção, a gestão, financeira e desportiva, a comunicação, o marketing, o departamento médico, o staff técnico… E é o funcionamento e o relacionamento entre todas estas vertentes a determinar se um clube é bom ou mau, independentemente de ser grande ou pequeno, rico ou pobre. Se funcionarem bem, vão tornar a equipa de futebol melhor; se funcionarem mal, tornarão a equipa de futebol pior.
Claro, é a equipa de futebol que deve mover os clubes de futebol e a maioria dos esforços devem ser no sentido de ajudarem treinadores e jogadores. Só que essa ajuda será mais eficiente e mais diferenciadora quanto melhor forem as equipas atrás mencionadas. Dirigentes bons, gestores bons, médicos bons, observadores bons tornarão a equipa de futebol melhor.
Um clube fraco faz fraca uma equipa forte. Um clube forte faz forte uma equipa fraca.