Falar e comunicar são mais diferentes do que parecem. Falar é dizer, comunicar é transmitir, o significado não é o mesmo, tal como a importância de uma e de outra pode não ser. O que se diz é importante, mas torna-se mais ou menos influenciável quando vai acompanhado, ou não, com o comportamento adequado. O que se transmite, portanto, vai além do que se diz e é sempre decisivo porque muitas vezes a mensagem mais poderosa está aí. Não é por acaso que a mesma coisa dita por pessoas diferentes, em situações diferentes, não é compreendida de maneiras iguais.
A juntar a isto, também é essencial perceber que a comunicação raramente é um processo simplificado, entre duas pessoas, que nasce e morre aí. As conversas têm vida, andam no ar, têm som, têm tom, têm forma e contextos. Quando se fala para alguém, normalmente, há sempre outros que estão a ver e/ou a ouvir, pelo que a comunicação – aquilo que se transmite e que torna a mensagem completa –, tida, supostamente, como destinada a apenas uma pessoa, vai chegar a todos. Vai influenciar coletivamente. Como tal, a comunicação quase pode ser vista como um processo porque é dinâmica, faz evoluir, ou não, o que se passa à sua volta, daí para a frente. Fortalece ou fragiliza, melhora ou piora, une ou separa.
Se um patrão/treinador/líder berra com um colaborador, o insulta, o critica ou, pelo contrário, o elogia, essa mensagem também vai chegar a quem presencia a cena, mesmo que não tenha nada a ver com o caso. O líder passará a ser visto e a ser compreendido de outra forma. E, mesmo que não esteja ciente disso, está a influenciar, positiva ou negativamente, outras pessoas. A comunicação chega a todos os que a vêem e a ouvem.
Quando reagimos mal a uma crítica, o que estamos a transmitir não é essa simples e aparentemente insignificante reação, mas sim que não gostamos de ser criticados, a mensagem que passamos perdura e abrange outras situações e outras pessoas; e quando criticamos alguém por ter uma opinião contrária à nossa (exemplo), não visamos apenas esse alguém, também estamos a dizer a quem nos lê, vê ou ouve, que respeitamos pouco quem não pensa como nós. Falamos para um, comunicamos para todos.
Por outro lado, também é essencial perceber que aquilo que se diz nem sempre é o que se sente, e esse conflito entre o dizer e o sentir nota-se, logo tem impacto e consequências. As palavras e os gestos podem querer elogiar, mas o comportamento/linguagem corporal serve de prova decisiva para confirmar a honestidade e a veracidade da mensagem. Quando não há correspondência, percebe-se. E tudo aquilo que se diz, por muito bem pensado que seja, perde relevância e eficácia. Quem observa a cena também é afetado, mesmo que a mensagem não seja diretamente passada para ele.
Claro que o que se diz é importante. Dizer a coisa certa no momento certo ainda é poderoso, pode revitalizar um estado de espírito, tranquilizar ou espicaçar, mas isso apenas serve no curto-prazo. Daí, a coerência ser fundamental para alguém ter na comunicação um aliado de peso e de impacto positivo. Se em situações iguais, diz coisas diferentes e opostas ou se transmite sensações diferentes (mesmo a dizer as mesmas coisas, atenção!), a comunicação perde eficiência. O que fica é a incoerência e ela dificilmente não será percebida. Consequência: a forma como essa pessoa é vista, modifica-se para pior; o líder, se for o caso, perde força, significado e influência.
É isto que acontece quando um treinador quer passar uma mensagem através da comunicação social: recebe a pergunta, responde a quem o questionou, mas fala e comunica para mais gente. O que é dito, contudo, só é mais ou menos importante assim as palavras sejam ou não acompanhadas por atos e comportamentos que lhe dão a força decisiva. Também é o que acontece quando um líder procura passar uma mensagem importante para o grupo e aproveita um caso específico para o fazer. Repreende ou elogia, mas apenas se se mantiver coerente com o que diz é que a mensagem perdura e se fortalece.
Dois pontos são fundamentais e de compreensão obrigatória para quem lidera: 1) Quando se fala com alguém, a mensagem chega, normalmente, a outras (e muitas) pessoas alheias a essa conversa; 2) A linguagem verbal e a linguagem comportamental/corporal devem estar sempre em sintonia, caso contrário a mensagem será diferente dependendo se isso acontece ou não;
Posto isto, torna-se claro que quem lidera tem na comunicação um grande aliado… ou um grande carrasco. Ela pode gerar confiança, mas também desconfiança. E a linha que separa uma coisa da outra, às vezes, é mais ténue do que se possa imaginar. Não há muito a separá-las. Um gesto, uma palavra fora do lugar ou o tom de voz podem deitar tudo a perder.
Para quem lidera equipas é decisivo perceber que nunca, em momento algum, fala e comunica para uma só pessoa. Tudo o que diz e faz chega a todos, influencia a equipa e faz dele um líder mais ou menos respeitado. A mensagem é sempre coletiva, passa para o grupo e deixa marcas, boas ou más.