Mário Branco é um dos diretores desportivos mais conceituados de Portugal e a nível internacional. Nesse cargo, já passou por cinco clubes (entre eles o PAOK Salónica, onde foi campeão grego) e por três países diferentes, experiência que faz dele alguém habituado a exercer e a lidar com contextos e formas de pensar e de trabalhar variadas. Neste conversa (a quarta depois de Jorge Araújo, Pedro Henriques e Diogo Luís), fala aprofundadamente sobre o que é ser diretor desportivo e da complexidade do cargo quando enquadrado em estruturas e em realidades diferentes, mas também sobre Gestão e Organização de clubes, Política Desportiva, Scouting e Formação, e salienta a necessidade, cada vez maior, de os clubes, as equipas e as organizações olharem para as limitações como oportunidades para criarem vantagens sobre a concorrência.
A entrevista completa esta disponível NESTE LINK.
Em baixo, deixo-lhe algumas das passagens mais interessantes da conversa.
SER DIRETOR DESPORTIVO
“Um diretor desportivo deve Observar, Adaptar e Agir. Observar a realidade em que está, depois adaptar-se a ela, e só depois agir”.
“Há treinadores, jogadores e dirigentes que cometem o erro sacramental quando emigram ou mudar de clube ou de país: querem transplantar uma realidade de algum sucesso que tiveram para a realidade que vão encontrar. Não respeitam o contexto”.
“É importante o entender o que se pode mudar, mas também é importante perceber o que não é preciso melhorar porque as coisas já estão bem”.
“Há princípios que se podem implementar em países diferentes, mas esses são os princípios mais gerais. Os princípios específicos mudam de país para país”.
“O Diretor Desportivo não precisa de saber a fundo do treino, não precisa de perceber a fundo do jogo e também não tem que ser um jurista, mas tem que entender alguma coisa de tudo o que envolve o cargo”.
“Um Diretor Desportivo deve estar no top-3 de uma organização, com o presidente (proprietário) e o diretor-geral (CEO). Os projetos de sucesso são aqueles em que os presidentes e os proprietários têm noção de que têm um conhecimento limitado e que se rodeiam dos melhores e as decisões são tomadas em conjunto”.
DIFICULDADES EM PORTUGAL
“O que muitas vezes existe em Portugal é que os diretores desportivos não têm responsabilidade nem responsabilização. Só estão no banco para assinar a ficha de jogo e entregar os papéis das substituições. Para mim, isso é descredibilizar a função. Portugal é um país muito presidencialistas e muito treinadorista”.
“Acredito que os modelos (de gestão) em países latinizados, como Portugal, têm que ser assentes em resultados imediatos”.
FORMAÇÃO
“Antes tínhamos os frangos campo, que picavam aqui e acolá, depois passámos para os frangos de aviário, que cresciam em ambientes controlados. E nessa altura, nós (portugueses), tínhamos primazia sobre outros países porque nós éramos os frangos do campo, tínhamos a criatividade e o improviso, que vinha de jogar na rua ou em campos maus”.
“A partir de 2004, começamos a ter melhores infraestruturas, mas continuámos a formar melhor nos escalões de formação dos clubes com menos possibilidades, apesar das limitações. Há vários clubes onde treinam quatro equipas no mesmo campo ao mesmo tempo, mas esses miúdos que jogam num quarto de campo e que pensam rápido, quando lhes abrir o campo vai pensar mais rápido do que os outros. Essa é a nossa força em comparação com outros modelos superorganizados. Nunca se pode perder a criatividade”.
SCOUTING
“Quando tenho reuniões com os meus scouts, acabo por desafiá-los a criarem alguma forma que os faça avaliar a criatividade e o improviso dos jogadores. Muitas vezes isso é o essencial e só os olhos e o feeling são capazes de conseguir chegar aí”.