Entrevista #13: João Carlos Pereira | Por dentro da Aspire Academy, lições e reflexões para a formação de jogadores

07 de Outubro, 2021 - 3 mins de leitura

João Carlos Pereira é treinador de futebol, com décadas de experiência, e durante seis anos foi parte ativa, como Coordenador, no desenvolvimento de jogadores na Aspire Academy (Qatar), um dos centros de formação e alto-rendimento mais evoluídos, mais complexos, mais holísticos e mais completos do Mundo.

Nesta entrevista, entre muitas outras coisas, João Carlos Pereira recorda experiências únicas e conversas inesquecíveis com Vítor Frade, Pep Guardiola, Paco Seirul-lo ou Xavi Hernández (“consegue encontrar pormenores e perceber coisas que a maioria dos treinadores não é capaz”), detalha o processo “vivo” e os avanços que o projeto foi conhecendo ao longo dos anos, confidencia como se criaram condições para tornar os jovens mais resilientes e mentalmente capazes, explica a “aprendizagem consciente para os jogadores” e como praticar outras modalidades é importante, para além de salientar a “preocupação tremenda na formação contínua dos treinadores”.

“O jogador era parte ativa no processo, era consciente dos erros que cometia, era altamente consciente dos conteúdos de treino e criámos condições para que os jogadores fossem refletindo sobre o seu desempenho e sobre o desempenho da equipa. O treinador fomentava a discussão e conseguimos meter os jogadores a discutir exercícios, conteúdos, as dificuldades que sentiam. Fazíamos isto antes, durante e depois dos treinos”.

A entrevista completa está disponível no YouTube e também pode ser ouvida através do podcast ‘Efeito BorboletRa’.

Abaixo, deixo algumas das passagens da conversa.


A INCUBADORA ASPIRE

“A Aspire englobava várias modalidades, tinha hospitais, cientistas, especialistas em biomecânica, fisiologia, em ciências sociais, informáticos que criavam algoritmos que nos ajudavam em várias vertentes… O projeto e o processo foi sempre uma coisa viva, em evolução contínua”

“Tínhamos uma espécie de ‘learning environment’, que nos permitisse, no fundo, criar uma cultura. Passou a ser extremamente fácil encontrar treinadores de todos os escalões, psicólogos, biomecânicos, cientistas, etc. Tínhamos todo o tipo de pessoas à nossa volta e era possível ter conversas com treinadores de outras modalidades. No próprio programa, havia outros desportos associados com o futebol. Ou seja, os miúdos eram do futebol, mas tinham aulas de basquetebol ou de judo ou de atletismo (…) e foi frequente ver miúdos mudarem de desporto ao longo da formação”

TIRAR CONFORTO AOS JOVENS

“Estamos num contexto muito particular. Os miúdos eram de famílias abastadas, que não passam qualquer tipo de necessidades. Eram miúdos acomodados, que tinham dificuldades em se superarem (…) e tivemos que criar ambientes para lhes tirar esse conforto e que os colocassem sob stress. Nos treinos, tínhamos sempre vários treinadores à volta do campo, em cima dos exercícios, havia exigência máxima, um grito aqui, outro grito ali, feedbacks individuais e de grupos. Também fazíamos testes mentais que nos ajudaram a perceber aspetos como a capacidade de concentração, como lidavam com o erro - e normalmente lidavam mal e cometiam muitos mais erros depois de errarem. Queríamos que os jogadores fossem mais resilientes e tivessem mais capacidade de sofrimento”.

APRENDIZAGEM CONSCIENTE: O JOGADOR COMO PARTE ATIVA DO PROCESSO

“O jogador era parte ativa no processo, era consciente dos erros que cometia, era altamente consciente dos conteúdos de treino e criámos condições para que os jogadores fossem refletindo sobre o seu desempenho e sobre o desempenho da equipa. O treinador fomentava a discussão e conseguimos meter os jogadores a discutir exercícios, conteúdos, as dificuldades que sentiam. Fazíamos isto antes dos treinos, durante os treinos e depois dos treinos”.

TREINADORES EM EVOLUÇÃO CONSTANTE

“Havia uma preocupação tremenda com a formação contínua porque quanto mais preparado estiver um treinador, naturalmente mais capacitado está para satisfazer as curiosidades e as necessidades dos jogadores. Havia palestras, seminários, workshops, conversas informais… Passaram por lá centenas de treinadores de todo o Mundo e todas essas pessoas trouxeram diversas perspetivas sobre todas as áreas que envolvem o futebol. De Portugal, Vítor Frade e o professor Júlio Garganta foram lá dar palestras, mas também Paco Seirul-lo, Pep Guardiola, Thomas Tuchel, María Ruiz de Oña, uma psicóloga que teve um impacto tremendo em mim. Falar e questionar, por exemplo, o Guardiola é impagável”.

Vasco Samouco