Entrevista #10: André Zanotta | Por que evolui a MLS, a diversidade decisiva e o que diferencia o jogador americano

08 de Abril, 2021 - 4 mins de leitura

Formado e especializado em Direito Desportivo, André Zanotta entrou no futebol depois de perceber “como os clubes estavam carentes de pessoas especializadas e de profissionalismo” nas diversas áreas. Começou no México (Atlante), foi diretor desportivo de Santos, Sport Recife e Grémio, e hoje é Diretor Executivo do futebol do FC Dallas, nos Estados Unidos.

Nesta conversa, o gestor explica as razões por detrás da grande evolução da MLS nos últimos anos e por que o FC Dallas tem a melhor academia de formação do país.

A importância da diversidade e de apostar em pessoas de diversos contextos e com experiências diferentes, o médio e o longo-prazo em vez do “imediatismo e do resultadismo”, pensar o futebol como um todo através da partilha de ideias, a necessidade de criar um produto apetecível e o rigor e as limitações que ajudam os clubes a serem responsáveis, são alguns dos aspetos salientados por André Zanotta. Já na academia do FC Dallas, a prioridade é formar jogadores mentalmente fortes e preparados para a exigência da alta-competição.

“Ao contrário do que acontece em muitos países, até nos principais centros de futebol na Europa, a MLS está muito aberta a trazer pessoas do estrangeiro para trabalhar em diferentes áreas, seja na preparação física, na medicina, na gestão. A fazer o mesmo trabalho que eu, mas noutros clubes, há holandeses, suíços, alemães, mexicanos, italianos… E essa variedade de experiências vem acrescentar valor e conhecimento. Há muita diversidade e isso tem ajudado muito”.

A entrevista completa está disponível no YouTube e também pode ser ouvida através do podcast ‘Efeito BorboletRa’.

Abaixo, deixou-lhe algumas das passagens da conversa.


PROFISSIONALISMO, DIVERSIDADE E ESTABILIDADE

“Nos EUA, o profissionalismo é levado à risca, em todos os desportos. A evolução da MLS é incrível, não só na qualidade de jogo. Hoje, os jogadores de fora já têm interesse em vir jogar para cá, a qualidade do jogador americano melhorou muito, as infra-estruturas também têm evoluído muito, a qualidade dos estádios e dos centros de treino aumentou e os clubes já investem bastante formação”.

“Ao contrário do que acontece em muitos países, até nos principais centros de futebol na Europa, a MLS está muito aberta a trazer pessoas do estrangeiro para trabalhar em diferentes áreas, seja na preparação física, na medicina, na gestão. A fazer o mesmo trabalho que eu, mas noutros clubes, há holandeses, suíços, alemães, mexicanos, italianos, brasileiros… E essa variedade de experiências vem acrescentar valor e conhecimento. Há muita diversidade e isso ajuda”.

“No Brasil, a média de tempo que um treinador aguenta no cargo é de quatro meses, o que é um absurdo. Aqui, não. Há mais estabilidade para trabalhar. No FC Dallas, o nosso treinador vai entrar na terceira temporada seguida e o anterior ficou cinco anos. Como os clubes não têm eleições, não há preocupação nos donos em se manterem no poder, ao contrário do que acontece em muitos países da América do Sul e até na Europa, onde o imediatismo e o resultadismo mandam e por isso se planeia muito pouco para o médio e longo-prazo”.

TER UMA VISÃO GLOBAL

“Claro que existe a competitividade, mas também a preocupação grande de todos os clubes e de todos os gestores tentarem ajudar-se uns aos outros no sentido de fazer evoluir a MLS, a levar mais público a ver futebol. Reunimo-nos bastante para, entre todos, pensar e criar condições para isso, dentro e fora do campo. Muito do público quer entretenimento e se conseguirmos que o jogo seja bom, que a experiência seja boa, ele vai voltar e o interesse vai crescendo”.

ATRAIR JOGADORES E TREINADORES

“A juntar ao aumento da qualidade do jogo e da competição, das condições estruturais e do profissionalismo, da estabilidade, acho que a qualidade de vida do país é um fator importante e que aproveitamos (quando negociamos com jogadores e treinadores). Os filhos podem estudar em boas escolas e aprender inglês. Depois, quem vem também sente que pode contribuir realmente com alguma coisa e ajudar os clubes e a própria liga a crescer”.

AS VANTAGENS DAS LIMITAÇÕES

“A MLS tem as suas particularidades que quer manter (o draft, as trades…), mas ajuda-me muito no planeamento saber que não posso ter mais de 30 jogadores, que só há oito vagas para estrangeiros ou que há um teto salarial para cumprir e limites financeiros para pagar comissões a empresários. Algumas coisas podem impedir os clubes de contratar um bom jogador, mas a MLS é muito rigorosa e acredito que isso ajuda os clubes na gestão”.

O MÉTODO FC DALLAS

“A ideia é formar jogadores com um bom entendimento do jogo e, acima de tudo, com uma mentalidade forte porque entendemos que, cada vez mais, a parte mental é fundamental no futebol (…) Queremos que os nossos treinadores trabalhem muito bem essa parte mental, mas o americano em geral já tem essa competitividade desde muito cedo. A competição existe em quase tudo, para conseguir uma bolsa para a universidade, que são limitadas, por exemplo. Então, eles vivem com essa concorrência desde muito cedo. A maioria dos treinadores que temos são americanos e eles conseguem estimular isso muito bem”.

“Em muitas realidades, como no Brasil, o futebol é uma saída para se ter alguma coisa na vida, mas aqui não. Nos EUA, o sistema de educação é muito forte e a educação vem em primeiro lugar. Nós tentamos conciliar isso tudo na nossa formação, de maneira a que os jovens se formem nos aspetos tático, técnico, físico e mental”.

Vasco Samouco