A maioria das revoluções, independentemente da época, da circunstância e do contexto, nasce de erros, de pecados, de más decisões tomadas reiteradamente, de maus comportamentos consecutivos e de fragilidades e falhas detetadas, muitas vezes tardiamente, que têm consequências graves e duradouras no presente e no futuro. É assim na política, na sociedade, nos negócios, no desporto e no futebol.
Contratar 20 jogadores por temporada; mudar de treinador três vezes no mesmo ano e ao fim de quatro jogos; alterar políticas e estratégias consecutivamente; não dar tempo e colocar tudo em causa sistematicamente… O futebol está cheio de revoluções e as revoluções só existem e acontecem quando não há visão, organização e ideias claras.
As revoluções apenas são necessárias, inevitáveis até, quando erros sistemáticos, por identificar ou que não foram corrigidos, já não deixam margem de manobra para outras soluções, o que, no caso do futebol, podem deixar clubes e equipas num ponto demasiado fragilizado para ser resolvido com racionalidade e aproveitado para ser o início de alguma coisa. Começar uma revolução é o fim de tudo, simplesmente. E o que se segue é uma incógnita.
Por isso, quando, no plano desportivo e futebolístico, se fala em revolucionar, o que se está a dizer e a transmitir é que tudo o que se fez até então foi mal feito e não tem nada que se aproveite. É um atestado de incompetência declarado, é dizer que se perdeu tempo, dinheiro e recursos sem que disso resultasse o que quer fosse de significativo.
No futebol, as revoluções apenas surgem – até certo ponto, pode dizer-se que são obrigatórias – quando não há uma visão, um plano, um projeto, capacidade crítica e uma mentalidade de crescimento e evolução associada.
Revolucionar é uma solução de recurso, é um ato de desespero – do ponto de vista social e a título de exemplo, é isso que está a acontecer atualmente nos Estados Unidos a propósito do racismo –, também no que diz respeito a clubes e equipas de futebol, e quando é o desespero a orientar decisões quase não é preciso dizer mais nada sobre o que foi feito no passado que provocasse tal reação. Más decisões, erros em série e não corrigidos, insistência em estratégias improdutivas, pouca ou nenhuma capacidade de reflexão e aprendizagem, etc.
As revoluções no futebol são consequência de muitos males e erros que não foram solucionados, mas têm outro problema essencial associado: demoram anos a ser concretizadas e não se consolidam de um dia para o outro. Se o que se quer é construir de raiz e mudar tudo, então não faz sentido esperar que isso garanta resultados imediatos. Nem sequer é provável. Esperar o contrário é altamente prejudicial e o primeiro passo para outra revolução surgir sem haver tempo nem dados suficientes para se saber se o que se está a (tentar) fazer vale a pena.
Mudar aos poucos é, por isso, mais fiável, mais consciente e menos propenso a erros. Não há revoluções, há evoluções. E é isso que fazem os clubes, as equipas e as organizações que trabalham bem, que são exemplos de boa gestão, boa liderança e bons resultados. Como estão atentos aos erros (logo estão mais perto de os corrigir), têm a noção de que é sempre possível fazer mais e melhor, vão-se (r)evolucionando continuamente, aos poucos e quase impercetivelmente.
Regra geral, nunca está tudo mal e nunca está tudo bem e ter essa perceção é o ponto fulcral para se evitar revoluções e, pelo contrário, ir-se revolucionando, ajustando, evoluindo. É assim que pensam os que são bem organizados, bem geridos e não se acomodam. No pior, tentam ver coisas boas; no melhor, tentam ver coisas más. E assim não precisam de revoluções, já que a procura de melhorias, de soluções e de correções é constante.
O exemplo do Barcelona é paradigmático. Após anos de más decisões, má gestão, escolhas duvidosas, uma política desportiva incoerente e maus resultados, decidiu que era tempo de mudar tudo de um dia para o outro, de cima a baixo, e, aparentemente, sem muito critério (normal, em situações de desespero), em vez de ir aprendendo com os erros, encontrar explicações para os falhanços e estar constantemente alerta e preparado para ajustar estratégias.
As revoluções evitam-se. E evitam-se com organização, critério, vontade em melhorar sempre, em não ficar resignado ao que está feito e conquistado, em antecipar problemas, com o não deixar arrastar situações potencialmente perigosas, com o aproveitar os bons resultados e não esperar pelos maus para levar a cabo mudanças. As revoluções não se fazem, mas vão-se fazendo.