Não houvesse alguém que inovasse e os carros ainda seriam como há 100 anos, todos os telefones teriam fios, as televisões só funcionariam a preto e branco, os computadores ainda seriam gigantes. Mas tudo isso, e muito mais, evoluiu para algo melhor e mais prático porque alguém pegou nas ideias originais e percebeu que era possível torná-las melhores.
Inventar e inovar parecem a mesma coisa, mas têm significados e, principalmente, consequências diferentes. Quase se pode dizer que inventar é o princípio, enquanto o inovar é o meio (o processo) para se chegar ao fim. Por isso, é justo concluir que é a inovação que faz da invenção mais ou menos importante e especial. A invenção é ponto de partida, mas nada nem ninguém é perfeito à nascença. E é aí que entra a inovação, a arte e a capacidade de melhorar, ajustar e rentabilizar o que já existe e o que outros já fazem.
Thomas Edison é considerado um dos grandes inventores na história, mas, na verdade, ele não inventou, no verdadeiro sentido do termo, assim tantas coisas quanto isso. Não inventou a lâmpada, nem o telefone nem a máquina de escrever, mas todos esses objetos são indissociáveis da influência do grande empreendedor americano. Edison não inventava; inovava. Pegava em invenções de outros, achava-lhes valor e tratava de as aperfeiçoar e de torná-las mais valiosas, mais úteis e mais rentáveis. No fundo, Thomas Edison “procurava soluções que precisavam de modificações”.
O texto da ‘The New Yorker’ sublinha ainda que “o dom de Edison não era tanto inventar, mas sim o que ele chamava de aperfeiçoamento – encontrar maneiras de tornar as coisas melhores”.
O exemplo (ou a filosofia) de Edison é, portanto, valioso para uma área que, constantemente, deve tirar conclusões, refletir e repensar – ou alterar, se for caso disso – conceitos, comportamentos, abordagens, estratégias e ideias. Não é que no futebol já esteja tudo inventado (acredito mesmo que não está e que, talvez, nunca estará), mas pode ser que um segredo que resulte em soluções para se ser sustentável e vencedor não esteja tanto em ser um pioneiro; o segredo, se calhar, é ser inovador e melhorar e adaptar o que já alguém fez.
Hoje, quando um clube decide que vai apostar a sério no recrutamento e no scouting, não fará nada que outros já não façam, mas para tirar o máximo aproveitamento dessa decisão não pode fazer como a maioria; tem que aperfeiçoar metodologias e ajustá-las à realidade que lhe é inerente; por outro lado, quem decidir que o caminho é a formação de jogadores, para a primeira equipa e/ou para vender, vai estar a seguir a ideia de alguém, mas, como tem qualidades, defeitos e argumentos diferentes, terá que encontrar formas, únicas e adaptadas ao contexto, de rentabilizar essa aposta; recorrer aos dados e às estatísticas também está longe de ser uma invenção, mas inovar para torná-los mais vantajosos é possível.
Como em quase tudo o resto, também no futebol as invenções precisam sempre de aperfeiçoamentos. Primeiro, porque nada é perfeito à nascença e depois porque a mesma coisa pode ajudar de maneiras diferentes, dependendo de onde, de quem e de como for usada. O que é fulcral perceber é que isso apenas é possível se houver aperfeiçoamentos, adaptações, cedências, enquadramento, reflexão e visão.
Pep Guardiola é um bom exemplo de alguém que pode ser visto como uma espécie de Thomas Edison do futebol. Ele não inventou o ‘falso 9’, que já havia sido usado na década de 1950, mas esse papel caiu no esquecimento até que ele o recuperar e o adaptar ao futebol atual; também não inventou os laterais-interiores nem o 2x3x5 que o Manchester City tantas vezes usa em organização ofensiva. Guardiola fez como Edison e “procurou soluções que precisavam de modificações”.
Cada vez mais competitivo e complexo, nunca como agora o futebol levantou tantas questões e criou tantos problemas e constrangimentos a clubes, gestores e treinadores, e, por isso, também nunca exigiu tantas respostas e soluções, melhores e rapidamente. Inovar (melhorar o que já foi feito) é, assim, quase uma obrigação para quem quer evoluir, crescer e lutar por mais e melhores conquistas, em vez de ficar para trás.
Pegar numa ideia, esteja onde estiver e venha de quem for (até de fora do futebol), estudá-la, recriá-la, ajustá-la e operacionalizá-la de maneira diferente é um caminho, o caminho de Edison. É aquilo a que se pode chamar de ‘usar as mesmas coisas para fazer coisas diferentes’. Mas mesmo que a solução para algum problema ou desafio esteja numa invenção e na criação de algo novo, é importante não esquecer que é a inovação, a tal procura de aperfeiçoamento, que tornará a invenção realmente diferenciadora.
Como (supostamente) disse o próprio Thomas Edison: “Há uma forma de fazer isso melhor – encontre-a”.