Agora que o Brentford concretizou, por fim, o objetivo de chegar à Premier League, voltam a ser destaque os trabalhos que tentam explicar (simplificar) a evolução de um clube pequeno, com poucos adeptos e recursos e sem um passado vitorioso, mas que hoje é uma referência mundial ao nível da gestão, desportiva e financeira. E esta é logo a primeira lição: o Brentford prova que não interessa o tamanho, a geografia, o poder financeiro ou a história; o que importa é ter um plano, acreditar nele e fazer as mais coisas boas do que más.
Não é novidade que o Brentford foi disruptivo desde que Matthew Benham se tornou o proprietário do clube, em meados de 2012, com os números, as estatísticas e a ‘big data’ a assumirem todo o protagonismo na tomada de decisão, aos mais variados níveis. No entanto, assumir que isso é a razão principal por detrás do sucesso recente dos ‘bees’ é simplificar demasiado as coisas. É passar a ideia de que basta replicar a mesma visão e as mesmas estratégias e os resultados serão os mesmos. Não. Ter bons resultados é mais complexo do que isso.
Também no Brentford, o segredo não está, simplesmente, no que se faz. Mas como se faz. Mais do que isso até, é como faz e como se comporta nos diferentes momentos, quando os resultados são bons ou maus. Para explicar este êxito é preciso, primeiro, perceber que não foram tudo rosas. Para chegar à Premier League, o Brentford (só) precisou de subir duas divisões e, ainda assim, demorou quase uma década para o conseguir. Houve, pode-se assumir, mais derrotas para digerir do que vitórias para festejar. Foram mais os anos em que o Brentford acabou as épocas sem alcançar a meta. Mas não veio mal ao mundo por isso. Não houve desespero ou dúvidas ou a tentação de mudar.
A grande lição que o clube deixa tem a sua raiz precisamente neste ponto, nos insucessos, nos momentos infelizes, porque é nessas alturas que, normalmente, se cometem os erros de análise e de julgamento e se tomam as decisões erradas com custos elevados, e muitas vezes irremediáveis, no futuro. O Brentford, pelo contrário, usou-os para aperfeiçoar uma ideia e um modelo, sem deixar que as derrotas se sobrepusessem ao plano traçado. O Brentford manteve-se sempre fiel às suas ideias, nunca duvidou e foi melhorando o processo.
Claro que o uso da ‘big data’ – hoje já normalizado – a uma escala até então inédita no futebol não foi irrelevante, mas só se torna verdadeiramente importante quando essa aposta é contínua, alimentada por uma crença indestrutível mas refletida e pela noção de que é sempre possível melhorar, mesmo quando as coisas correm bem. Ter as pessoas certas nos cargos certos e perfeitamente identificadas com o projeto também ajuda O Brentford não é só os números e as estatísticas; é, acima de tudo o resto, é toda essa cultura.