Nunca como agora se falou tanto da importância da comunicação, da necessidade de comunicar bem, de falar bem e nos momentos certos, etc, etc… Mas a comunicação tem bastante complexidade associada, já que exige várias qualidades – tanto físicas como mentais/emocionais – e, não menos importante, também é aquilo que se faz, que se pensa e que se transmite sem (querer) dizer coisa alguma.
Tenho pensado muito sobre o que caracteriza um bom comunicador e uma das conclusões (nunca infalíveis e sempre sujeitas a discussão) a que cheguei é que ser um bom comunicador tem mais a ver com o que faz do que com o que se diz. Alguém que comunica bem, talvez, nem precise de falar bem se aquilo que diz estiver totalmente de acordo com aquilo que faz.
Porque as palavras podem ter impacto imediato – para o bem e para o mal – mas, com o tempo, só se tornarão significativas, mesmo imediatamente, se forem acompanhadas por ações e comportamentos condizentes com aquilo que se diz. No futebol, acredito, esta relação (palavras/ações) assume uma importância ainda maior.
Numa altura em que a comunicação é vista como um dos aspetos mais importantes e até decisivos para o (in)sucesso, nomeadamente no que diz respeitos aos treinadores e a quem está em cargos e funções de liderança, parece-me pertinente dizer e alertar (refletir, pelo menos) que comunicar bem não é falar bem e dizer as coisas certas nos momentos certos. Comunicar bem é fazer com que as palavras estejam alinhadas com o pensamento, com as ações, com as convicções e com os comportamentos que se partilham, alimentam e realizam dia após dias após dia. Só assim é possível alguém tornar-se um bom comunicador.
A comunicação é, acima de qualquer outra coisa e primeiro que tudo, comportamental. É feita de ações antes de palavras.
Pensemos num treinador ou num presidente. Um treinador que diga e explique muito bem que quer jogar de determinada maneira, mas que depois, no jogo (na ação), pede e incentiva comportamentos incompatíveis com essa forma de jogar, perde credibilidade e as palavras deixam de ter força. Um presidente que anuncie um projeto para o futuro e que passados uns meses, porque os resultados não são bons, tome decisões contraditórias em relação ao que anunciou dificilmente voltará a ser mobilizador com palavras, por muito bem que fale e por muito que a sua linguagem corporal seja convincente.
Claro que as palavras (a comunicação) são importantes, só que nunca serão assim tão importantes se não estiverem alinhadas com os comportamentos e as decisões tomadas. Acredito que os bons comunicadores fazem-se, primeiro e sobretudo, com ações. As palavras surgem depois. E também ajudam.