A minha admiração e o meu respeito pelos treinadores são imensos e cada vez maiores. Porque, no futebol, são eles que têm o trabalho mais difícil, são eles os mais julgados e responsabilizados, e são eles os menos ajudados. Vivem sob pressão constante, numa incerteza que só pode ser castradora e inibidora. E insistem. E sujeitam-se a um cenário em que, raras exceções, lutam contra tudo e contra todos. Têm que ganhar aos adversários e ainda ganhar e convencer quem os contrata. Escrevo isto e penso também em todos os que alimentam o objetivo de fazer carreira num cenário tão desanimador. Só merecem palmas.
Todos os clubes pensam – ou deviam, pelo menos – em como podem ajudar os jogadores a renderem ao melhor nível. Investem em mais pessoas, em mais competências, em mais tecnologia. Mas a maior parte descura aquele que mais ajuda os atletas: o treinador. Se os jogadores têm que ser ajudados para jogar bem, então não faz sentido que quem lida com eles, que os treina, lidera e influencia também seja ajudado para render na sua função, que, por acaso, é só o trabalho mais complexo e exigente no mundo do futebol?
Tudo é feito a pensar nos jogadores, em dar-lhes as melhores condições, mas pouco é feito para ajudar quem mais pode ajudar os jogadores. Ao ajudar os treinadores também se está a ajudar os jogadores.
Os treinadores vivem constantemente pressionados, são julgados diariamente, jogo a jogo, sofrem com uma esquizofrenia analítica que em nada os beneficia e que ainda por cima, na maioria das vezes, carece de sustentabilidade. Para agravar o problema, essa exigência é maior por parte de quem os contrata, mas que depois se esquece de lhe proporcionar condições para que ele possa fazer bem o trabalho para o qual foi escolhido.
Não se está a ajudar quando se transmite a mensagem de que perder três jogos seguidos é suficiente para se ficar sem emprego, por exemplo. Pelo contrário, este cenário tem efeitos perversos também na formação e na evolução do treinador e, consequentemente, no rendimento e na sustentabilidade, desportiva e financeira, dos clubes a médio e a longo-prazo. Dar-lhes tempo, passar-lhes tranquilidade, garantir-lhes segurança e um bom enquadramento não é muito, mas já é suficiente para tirar de cima do treinador um peso significativo que tem influência negativa em tudo o que faz. E isso, num contexto competitivo cada vez mais exigente, parece-me um erro crasso.
Quando pensamos nos jogadores e dizemos que têm que ser fortes mentalmente, esquecemos que há alguém que, no mínimo, merece tanta atenção sob esse ponto de vista. Os jogadores têm os treinadores, mas os treinadores não têm ninguém. Simplesmente, são contratados e espera-se que sejam super-homens, imunes a tudo o que os rodeia, sem fragilidades, sem maus momentos, psicologicamente imbativéis e um poço de fortalezas capazes de aguentar tudo e ainda ter a capacidade de treinar ao melhor nível. Não faz sentido. Nem é possível.
Nesta conversa, Jorge Araújo alertou para a importância de as equipas técnicas integrarem, sempre que possível, um “treinador do treinador”, alguém que, entre outras coisas, se dedique exclusivamente a analisar o treinador, a dar-lhe feedback e conselhos, a questionar-lhe os comportamentos para melhorá-los a partir dessa discussão. Parece-me algo que pode, realmente, fazer a diferença, mas penso que muito desse trabalho deveria ser feito e tido seriamente em conta pelo clube.
É bom, e necessário, ter equipas técnicas alargadas e staffs cada vez maiores, mas é urgente perceber que se o treinador, aquele que manda e que toma as decisões, estiver sempre numa posição de fragilidade e a sentir-se constantemente ameaçado dificilmente será um bom treinador.